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Em eleições passadas, ouvi muitas reclamações sobre carros de som e sobre a distribuição de propaganda política no centro da cidade. É que, já habituados ao proselitismo político televisivo, achávamos excessivo o barulho das campanhas eleitorais. E confesso, uma ou outra vez, enjoaram-me os ruídos em excesso, para logo me dar conta de que a democracia é assim mesmo, barulhenta e colorida e que lutamos por isso muito tempo. Pior é a silenciosa e acinzentada "democracia" do partido único, sem eleições, sem renovação periódica dos governantes. Pior, muito pior, é o silêncio imposto pela força, pelo arbítrio e pela prepotência.
É óbvio que para tudo existe limite. No caso da propaganda eleitoral, os limites são sempre aqueles determinados pela lei. Assim, desde que o balizamento legalmente traçado seja respeitado, gostemos ou não, continuaremos ouvindo adaptações musicais de gosto duvidoso, refrões com rimas pobres, slogans pouco criativos, patéticos apelos pelo voto e a repetição incessante de velhos chavões eleitorais. O que nos cumpre fazer é auxiliar a Justiça Eleitoral, e os próprios partidos, para que a fiscalização da campanha se faça efetiva e coíba os excessos que afrontem a legislação.
De resto, neste ano, por força das restrições impostas pela pandemia da Covid-19, a propaganda eleitoral está muitíssimo mais comedida do que em pleitos passados. Além disso, as mídias sociais são cada vez mais utilizadas como canais efetivos de comunicação entre os postulantes aos cargos eletivos e os eleitores.
Quanto ao restante, cumpre-nos a tarefa fundamental de encontrar, entre os candidatos, aqueles que melhor representem a possibilidade de tornar concretas nossas esperanças de avanço e de afirmação da cidadania, de progresso coletivo e de transformações econômicas - no plano das competências e atribuições dos municípios - que ajudem no processo de saneamento das distorções e desigualdades sociais, de sorte que, possamos, a partir das nossas comunas, colaborar para que, adiante, façamos do Brasil um país menos injusto, no qual a riqueza produzida gere benefícios sociais partilhados entre todos os cidadãos.
É inegável que, nas últimas décadas, avançamos economicamente. Mas também é inegável que muito ainda há por fazer para que atinjamos um nível de igualdade ajustado às potencialidades do país e afeiçoado aos parâmetros de bem-estar social das sociedades mais desenvolvidas do planeta.
Mas, não pensem os senhores que estou prendendo dar lições sobre como devemos votar. Todos nós temos razões para justificar as escolhas que fazemos. Só que, quando se trata da escolha de agentes políticos, penso que não devamos nos deixar levar apenas por razões afetivas, emocionais, como se não tivéssemos qualquer compromisso com o futuro do outro. Não é o meu interesse particular que deve orientar minha escolha, mas o interesse do todo. Se pensarmos menos em nós mesmos e mais nos outros, faremos escolhas mais saudáveis do ponto de vista do interesse coletivo. Esse - e que vivam seus ruídos e suas cores - o verdadeiro espírito da democracia.